Crianças com traqueostomia podem frequentar a escola?
A traqueostomia é um procedimento cirúrgico que, através da colocação de uma cânula na traquéia, estabelece uma comunicação direta entre ela e o meio externo e a criança passa a respirar através desse dispositivo tecnológico. É indicada para tratamento ou melhora dos cuidados respiratórios ou mesmo para prevenção de estreitamentos da via aérea.
A literatura internacional relata tradicionalmente a necessidade de traqueostomia em 0,5-2% das crianças submetidas a intubação e ventilação mecânica em unidades de terapia intensiva. No Brasil, essa falta de padronização nos cuidados ocorre pela ausência de diretrizes nacionais que orientem o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Agência Nacional de Saúde (ANS), o que se reflete na falta de disponibilidade de material necessário para os cuidados com esses pacientes, como cânulas de traqueostomia nos serviços de atendimento médico, além da falta de treinamento das equipes médicas e não médicas que atendem esses pequenos pacientes.
A traqueostomia impõe certos cuidados que podem deixar a criança mais vulnerável, como por exemplo o seu sistema respiratório fica mais suscetível a contaminação e a aspiração de corpos estranhos.
As crianças que fazem uso da traqueostomia apresentam demandas constantes associadas aos cuidados diários das suas necessidades de saúde especiais e específicas, como por exemplo o manejo do cuidado da traqueostomia, que requer uma capacitação do cuidador para manter esse dispositivo tecnológico livre de secreções de uma maneira asséptica para evitar infecções.
Esses cuidados devem atravessar todos os ambientes que a criança venha a frequentar, e neste espaço de reflexão poderíamos pensar no ambiente escolar, local que passa a ser obrigatório para a criança a partir do sexto ano de vida, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90) seu direito à educação. Porém para que essa criança com traqueostomia frequente a escola um plano de ações precisa ser pensado para que a permanência na escola seja segura e suas necessidades de saúde especiais sejam atendidas na escola.
Muitos casos observamos que essas emergências podem afetar na decisão dos pais de colocarem seus filhos com traqueostomia na escola, já que não se sentem seguros devido à falta de um cuidado coordenado entre a equipe do hospital e a escola e para que a criança permaneça na escola é exigido que a mãe permaneça no ambiente da escola ou estar em local próximo da escola caso haja alguma intercorrência.Essa situação é bastante comum para as mães de crianças com traqueostomia.
Foi publicado em 2017, o Primeiro Consenso Clínico e Recomendações Nacionais em Crianças Traqueostomizadas da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), este documento foi elaborado por um grupo de especialistas em crianças traqueostomizadas, no intuito de estabelecer diretrizes nacionais de conduta e cuidados e permitir num futuro próximo a criação de ‘‘linhas de cuidados’’ e um fluxograma no encaminhamento e tratamento dessas crianças junto ao Sistema Único de Saúde. Porém as recomendações para o acesso à escola das crianças com traqueostomia são incipientes neste documento.
A inclusão escolar de crianças com traqueostomia é urgente visto que essas crianças estão alcançando idades escolares e as escolas não se sentem preparadas para abarcar os cuidados especiais e específicos inerentes a sobrevivência delas fora do ambiente de saúde. Serviços de apoio que possam coordenar ações de cuidado entre os profissionais da saúde e da educação a fim de diminuir as adversidades que essas famílias encontram para matricular seus filhos na escola e facilitar seu potencial de empoderamento frente às vulnerabilidades que a traqueostomia impõe para que seus filhos.
Se você é um familiar, profissional da saúde que cuida da criança com traqueostomia, educador, gestor que tem interesse na inclusão escolar dessa criança, junte-se a nós para discutir as barreiras e os facilitadores de a criança com traqueostomia frequentar e permanecer em segurança na escola. Compartilhe conosco a sua experiência na inclusão da criança com traqueostomia na escola.
Fonte:
FRAGA, J. C.; SOUZA, J.C.K.; KRUEL, J.. Traqueostomia na criança. Jornal de Pediatria, v. 85, n. 2, p. 97–103, 2009. Disponível em:
AVELINO, M.A.G.; MAUNSELL, R.; VALERA, F.C.P.; et al. First Clinical Consensus and National Recommendations on Tracheostomized Children of the Brazilian Academy of Pediatric Otorhinolaryngology (ABOPe) and Brazilian Society of Pediatrics (SBP). Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 83, n. 5, p. 498–506, 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/bjorl/a/fk9FVgpDRHJvmKWL8KgJhFc/?format=pdf&lang=pt
BRASIL. Lei N° 8.069, de 13 de julho de 1990, dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: